Jovens maranhenses são encontradas em boate na zona leste e dono do estabelecimento acaba preso após denúncia.
Mais um caso de tráfico humano se destacou na imprensa nos últimos dias, desta vez, na cidade de São Paulo. Oito garotas maranhenses foram encontradas pela Polícia Civil na noite da última terça-feira, 12 de março, em uma boate no bairro Vila Jacuí, zona leste da capital paulista. O dono do estabelecimento, Lourisval Pereira de Jesus, acabou na cadeia. “Será enquadrado em três crimes: rufianismo, por manter a casa de prostituição e por tráfico interno de pessoas”, afirmou o delegado Cesar Camargo, titular 1ª Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Liberdade Individual, à Marie Claire Online. “Ele ficou surpreso quando foi preso. Chorou. Embora não tenha ido ao Maranhão aliciá-las, é proprietário do local onde elas exerciam a prostituição e da casa onde moravam. Toda noite colocava as meninas numa Kombi e as levava para trabalhar”, afirmou o delegado.
A Polícia Civil tomou conhecimento do caso a partir de uma denúncia feita pelo cunhado de uma das vítimas. A moça, moradora de Pirapemas, município de 17 mil habitantes no interior maranhense, relatou à família ter viajado para São Paulo com a intenção de trabalhar como doméstica e que foi obrigada a se prostituir. “Ela está no Maranhão e ainda não prestou depoimento”, diz o delegado Camargo. “As que foram encontradas na boate alegaram que vieram sabendo que seriam prostitutas, defenderam o proprietário do estabelecimento dizendo que eram mais bem tratadas por ele do que pelos próprios pais e que não querem voltar para casa”.
De acordo com o delegado, as moças foram levadas para um abrigo e serão ouvidas por psicólogos.
Ele acredita que as condições sócio-econômicas tenham facilitado o recrutamento dessas jovens. “Cerca de 40% do que ganhavam ficava para o dono da boate. Elas se mantinham com o restante e ainda mandavam dinheiro para família”, afirma Camargo. “Não identificamos um esquema de aliciamento. Uma menina começava a faturar um pouquinho e convidava as amigas para virem para cá”. O policial lembra que o fato de elas não terem sido mantidas em cárcere privado não melhora a condição de Jesus.
“Tráfico humano é um crime que exige investigação aprofundada para que se identifique toda a cadeia de exploração. Todas as pessoas que fazem parte da rede respondem pelo mesmo delito”, diz a promotora de Justiça Maria Gabriela Ahualli Steinberg. “Não se exclui o tráfico, por exemplo, porque as vítimas viajaram voluntariamente ou porque sabiam que seriam prostitutas”. Maria Gabriela explica que, caso as mulheres tenham sido obrigadas a permanecer na boate por força de alguma dívida com o proprietário, o crime está configurado.