Relembrar período é essencial para mostrar aos jovens o valor da democracia, afirma historiador
A ditadura teve início no Brasil no dia 1º de abril de 1964, com a queda do então presidente João Goulart, e perdurou até 1985, quando ocorreu a eleição do primeiro presidente civil — Tancredo Neves — depois de 21 anos.
Durante o período, mais precisamente em 1970, o Brasil era governado por Emílio Garrastazu Médici e, naquele ano, a então estudante de psicologia e militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Cecília Coimbra foi presa e torturada.
Presa em 28 de agosto de 1970, Cecília sofreu torturas como choques elétricos e abusos sexuais. Ela relembra o medo que sentia quando era encapuzada e levada ao “interrogatório”. Isso sem contar nas inúmeras vezes que viu o marido ser torturado. Apesar de tantas memórias ruins, ela garante que “não fala na posição de vítima, mas sim de sobrevivente”.
Nenhum de nós [militantes] é coitadinho. Mas essas marcas [da tortura durante a ditadura] não saem.
Segundo a ex-militante, o tempo em que ficou presa foi “o mais terrível período [da ditadura militar], em que mais se torturou e o auge do terrorismo”. Mesmo afirmando que é “difícil” falar sobre a tortura, ela diz que é preciso contar o que se passou para “que se possa continuar na luta”.
Relembrar período é essencial para mostrar aos jovens o valor da democracia, afirma historiador
A ditadura teve início no Brasil no dia 1º de abril de 1964, com a queda do então presidente João Goulart, e perdurou até 1985, quando ocorreu a eleição do primeiro presidente civil — Tancredo Neves — depois de 21 anos.
Durante o período, mais precisamente em 1970, o Brasil era governado por Emílio Garrastazu Médici e, naquele ano, a então estudante de psicologia e militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Cecília Coimbra foi presa e torturada.
Presa em 28 de agosto de 1970, Cecília sofreu torturas como choques elétricos e abusos sexuais. Ela relembra o medo que sentia quando era encapuzada e levada ao “interrogatório”. Isso sem contar nas inúmeras vezes que viu o marido ser torturado. Apesar de tantas memórias ruins, ela garante que “não fala na posição de vítima, mas sim de sobrevivente”.
— Nenhum de nós [militantes] é coitadinho. Mas essas marcas [da tortura durante a ditadura] não saem.
Segundo a ex-militante, o tempo em que ficou presa foi “o mais terrível período [da ditadura militar], em que mais se torturou e o auge do terrorismo”. Mesmo afirmando que é “difícil” falar sobre a tortura, ela diz que é preciso contar o que se passou para “que se possa continuar na luta”.
Hoje, Cecília é a atual vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, fundado por ela para “lutar contra aquele regime de terror”.
Para o sociólogo e professor da Unicamp (Universidade de Campinas), Marcelo Ridenti, é importante lembrar o período da ditadura militar para que os brasileiros valorizem a democracia.
— Não podemos mais retroceder. É importante lembrar o desrespeito aos direitos humanos e a censura que, naturalmente, são coisas que nós esperamos que fiquem no passado.
Mesmo com a Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes contra os direitos humanos cometidos pelo governo durante a ditadura, Cecília considera que “a história continua sendo ignorada”.
— Ninguém foi responsabilizado. Essas pessoas continuam nas sombras.
Ridenti relembra que o período foi “paradoxal”, pois muitas pessoas consideravam a época favorável porque conseguiam ter acesso a bens supérfluos para a época — como televisão e rádio, por exemplo.
— Aconteceu uma modernização conservadora, que está associada à manutenção de desigualdades sociais que ajudou a desenvolver o País, mas não para o benefício de todos.
Vítima da ira dos militares, a ex-militante diz que forças políticas que fazem parte do cenário brasileiro “foram coniventes” com a ditadura e, para ela, a Comissão da Verdade “é uma brincadeira” por ter apenas reafirmado “o que os movimentos de direitos humanos e os familiares [das vítimas] falavam”.
— A censura da ditadura continua a ser mantida. Os testemunhos são mantidos em total sigilo. O relatório final não será público. É fundamental que esse relatório seja público. Não está se passando a limpo a história.
O professor da Unicamp afirma que a ditadura foi “herdeira de uma realidade autoritária do Brasil”, que é contrária aos “diretos de igualdade”. Isso fez com que muitos jovens da época, como Cecília, se revoltassem contra o regime.
Essa necessidade de lutar contra os padrões conservadores era algo que acontecia em todo o mundo e, no Brasil, não foi diferente, explica o historiador da Unicamp.
— As pessoas que tinham o mínimo de politização se sentiam perseguidas. Havia uma insatisfação com a ordem social. Havia muita rebeldia no Brasil e ela tinha diversas motivações como a contracultura, o liberalismo e o socialismo.
Comissão da Verdade e a mídia
Cecília condena que apenas as histórias mais famosas da ditadura sejam divulgadas e investigadas pela Comissão da Verdade, como a do deputado Rubens Paivaa e do jornalista Vladimir Herzogg.
— Eu fui testemunha de uma tortura de um companheiro, mas eu não fui chamada pela comissão. [Porque ele era] uma pessoa pouco conhecida.
De acordo com ela, o número de mortos e desaparecidos durante a ditadura “é muito maior”, mas que “as famílias ainda tem muito medo” de denunciar.
Cecília diz que o período provocou “efeitos” na sociedade brasileira e que os dispositivos usados na ditadura “são os mesmos usados hoje contra a pobreza e os movimentos sociais”.