Eu comecei a trabalhar em um club de strip-tease como garçonete. Minha “entrevista” consistia em andar pelo bagunçado escritório, no andar de cima de um club no centro da cidade. O gerente ficou me olhando e daí chamou um outro gerente do club e disse: “Eu tenho uma linda garota aqui para você e ela vai dançar para nós dentro de pouco tempo”.
Por Danielle Campoamor
Essencialmente, essa é a meta de qualquer club de strip-tease: descobrir mais dançarinas para trazer mais clientes e fazer com eles ganhem mais dinheiro. Como tentativa para alcançar essa meta, eles usam garotas bonitas, vestindo-as no que poderia apenas ser definido como lingerie e pedem que elas trabalhem oito horas seguidas com salário mínimo e fazem milhares de dólares todas as noites com elas, na esperança que as desesperadas garçonetes uma hora digam “que isso não vale a pena” e comecem também a dançar.
Como você pode imaginar, eles são bem-sucedidos na maioria das vezes.
Não posso mentir, era extremamente tentador. A maioria das mulheres que eu via, noite sim e noite não, parecia estar se divertindo muito e ao mesmo tempo ganhando uma boa grana. Eu aceitei um trabalho em um club desses e estava disposta a usar quase nada porque eu estava perigosamente pobre.
A empresa em que trabalhava foi dissolvida e eu trabalhava em tempo parcial em um trabalho que me permitia lavar meu cabelo com sabonete e estava morando em uma grande cidade onde o valor do aluguel era praticamente criminal. Servir mesas em um club de strip-tease era fácil, me dava horas de trabalho noturnas para que eu pudesse trabalhar mais durante o dia e não precisava de muito treinamento como um trabalho de servir mesas “normal” porque, bem, não é difícil trazer bebidas aos homens cuja preocupação com as bebidas era quase nula.
Por isso, ver as outras pessoas contando centenas ou até milhares de dólares depois de trabalhar apenas umas poucas horas não era nada pouco glamoroso.
No entanto, a insegurança é algo engraçado, e eu não gostava de meu corpo o suficientemente para sair mostrando em um palco nua.
Por isso, o que eu fiz foi melhorar as minhas habilidades até que meu gerente percebeu que eu era de certa forma confiável e me promoveu para bartender. Trabalhava mais horas, mas eu não precisava andar simplesmente por andar e poderia me esconder atrás do bar onde meu traseiro não era tão visível e, o mais importante de tudo, eu poderia observar.
E foi isso que eu fiz.
Quando eu não estava servindo champanhe ou fazendo bebidas, eu encostava ali no bar e observava como as mulheres usavam mais a sua sexualidade e o seu poder de sedução transformando em prazer em potencial. E eu observava os homens sem poder para controlar isso.
Eu observava um homem casado ir cinco noites por semana e gastar ao menos 2 mil dólares toda semana em apenas uma mulher. Ele tinha a sua favorita e a esperava, rejeitando educadamente as proposições de dança das outras, até que ela estivesse disponível. Ela dançava para ele uma, ou talvez duas vezes, mas o resto do tempo ela sentava ali no seu colo e conversava com ele. Por horas, isso era tudo o que eles faziam. Conversar.
O metal de sua aliança brilhava enquanto a luz do palco relampejava e virava, destacando o seu sorriso enquanto ele genuinamente se agarrava a cada palavra que a dançarina dizia. Ele possivelmente estava sozinho, definitivamente triste e era claro que ele gastava milhares de dólares por uma pequena parcela de tempo com uma estranha e era a atenção que fazia com que ele se sentisse melhor. Uma parte de mim presumiu que ele fosse viúvo.
A outra, mais pessimista, acreditou que ele estava casado por pelo menos 30 anos e tão devastadoramente desapaixonado que ele estava exausto demais para fazer alguma coisa ao respeito.
Eu via homens jovens jogando centenas de dólares, reproduzindo uma cena de algum vídeo de música rap que eles devem ter visto pelo menos umas 20 vezes. Eles apareciam com vários amigos e eles sempre fazem muito barulho e eles não tinham problema algum em dar para cada mulher gorjetas de 20 ou 50 ou até 100 dólares.
Durante as horas que eles estavam no club eles pareciam tão poderosos, ricos e felizes, mas eu continuava a observá-los enquanto seus amigos começavam a ir embora, um por um. Eu os observava assinando a conta final, uma tristeza passando pelos seus rostos pois eles sabiam tanto quanto eu que a alusão estava chegando ao fim.
O sol nascia e o conforto da escuridão não poderia mais esconder o vazio ou as suas dúvidas pessoais ou o que quer que seja que eles estavam tão desesperadamente tentando mascarar.
Esses caras me deixam triste e com raiva. Eu sentia pena deles, que eles tinham comprado um certo tipo de masculinidade e que ficaram presos a ela. Eu sentia raiva que eles acreditassem que é ok usar o dinheiro e as mulheres para fazer com que eles se sentissem melhor sobre suas próprias falhas.
Eu observava homens nervosos que eram pressionados por amigos escandalosos, desconfortáveis e inseguros. Era óbvio que eles não queriam estar ali e não se encaixavam nesse ambiente, mas, infelizmente, sentiam-se aprisionados pela obrigação errada.
Se eles dissessem algo, eles eram chamados de “mulherzinhas” ou “bichinhas” ou os dois, e então eles forçavam um sorriso e riam hesitantemente aturavam isso a noite toda.
Eu observava homens raivosos, que sentiam a necessidade de descontar as suas frustrações sexuais ou rejeições recentes nas mulheres que eles consideravam “menos do que” (eles). Aqueles caras eram geralmente expulsos antes que a noite acabasse e por um bom motivo.
Eu observava as mulheres que amavam o que faziam e achavam que tirar a roupa era uma expressão de beleza, amor próprio e sexualidade. Eu observava outras mulheres que tiravam a roupa pois elas estavam seriamente convencidas que era a única coisa na qual elas eram boas. A sua autoestima estava atrelada ao seu corpo e sua habilidade de poder usá-lo.
E, infelizmente, eu observava algumas poucas mulheres que faziam isso porque era uma forma fácil de continuar no vício de álcool e drogas. Eu desejava e queria por elas pois era obviamente doloroso ver que elas não tinham esperanças nem desejavam nada e essas são as mulheres que eu penso mais.
Noite após noite até eu encontrava um trabalho decente e deixar o clube de vez, eu via os humanos interagindo às vezes de forma ridícula (mas discutivelmente) e de uma forma completamente natural. Eu aprendi tanto com os homens e as mulheres sobre o quanto o meu corpo é poderoso ou, pelo menos, pode ser, quando e se eu decidisse amá-lo.
Eu aprendi a mexer a minha bunda bem antes que Miley Cyrus fizesse no palco e aprendi que seu me curvasse de um certo jeito, meu estômago pareceria pelo menos três vezes menor do que ele é. Eu aprendi que luz é tudo.
Eu aprendi a parar uma briga sem partir para o confronto físico e como elogiar uma mulher em algo que ia além de sua aparência. Eu aprendi como esconder drogas ilegais e como rejeitar uma cantada, de uma forma que parece sedutora. Eu aprendi sobre sexo e amor e como eles podem ser completamente separados para alguns e tão intrinsicamente associados para outros. Eu aprendi sobre a cura e a determinação e aprendi muito sobre o dinheiro.
Mas principalmente, eu aprendi que o estigma em torno da sexualidade feminina é o que continua a manter os negócios como os clubs de strip-tease bem-sucedidos. Eu aprendi que convencemos uma enorme quantidade de mulheres que a sua sexualidade é errada e que os seus corpos são vergonhosos e que se elas amam os seus corpos elas são “putas” e assim outras conseguem lucrar.
Eu aprendi que a sedução de qualquer club desse tipo não é necessariamente as mulheres nuas ou as danças apaixonantes, mas a sensação palpável de um segredo tabu. Por isso, muito dessa experiência está enraizada na ideia que é excitante porque é “ruim” e as mulheres são “ruins” porque elas são excitantes.
Eu aprendi que o poder das mulheres não vem da forma de seu corpo ou o quanto ela esteja disposta a se desvestir ou o quão atraente ela possa parecer ao sexo oposto. Não, o seu poder verdadeiro vem de ser, sem pedir desculpas, ela mesma e assumir cada lado dela mesma de uma forma que diz “eu sinto orgulho” no lugar de “eu estou com vergonha”.
Eu aprendi que a mulher é mais poderosa não quando ela consegue convencer um homem que ela é bonita, mas quando ela consegue – e conseguiu – convencer isso a si mesma.
Fonte: Brasil Post