Não muito longe de um clube noturno, três mulheres se agrupavam para enfrentar o frio em uma esquina. Quando um homem passou, as mulheres, em sueco e inglês capenga, tentaram atraí-lo para comprar sexo.
Nesta rua na segunda maior cidade da Suécia, a mesma cena se desenrola toda sexta-feira à noite. Até recentemente, Daniella, 34, que foi trazida da Romênia por um cafetão dez anos atrás, fazia parte dela.
Daniella, que pediu que seu nome completo não fosse usado, abandonou essa vida. Depois que seu “patrão” foi preso, ela recorreu a um grupo de voluntárias para encontrar uma maneira de deixar as ruas e se tornar parte do declínio da prostituição na Suécia.
A lei sueca que criminaliza somente a compra de sexo, não sua venda, aliada ao fortalecimento da rede de assistência às mulheres que querem deixar a prostituição, foi considerada um sucesso e um modelo para outros países desde sua adoção, em 1999. Um estudo divulgado em 13 de março concluiu que a prostituição nas ruas foi reduzida em mais da metade desde 1995.
A Noruega e a Islândia adotaram legislação semelhante em 2009, e importantes políticos britânicos pediram o mesmo. No ano passado, o Parlamento Europeu resolveu “reduzir a demanda por prostituição punindo os clientes”.
Enquanto a Suécia avalia as lições de sua abordagem, entretanto, o país continua enfrentando as questões que poderiam limitar o progresso na redução da prostituição e do tráfico sexual, incluindo os efeitos da tecnologia no mercado do sexo e os direitos das prostitutas.
Uma revisão da pesquisa sobre a legislação, encomendada pela Associação Sueca para Educação em Sexualidade à Universidade de Malmo, descobriu que não está claro em que medida os telefones celulares e a internet, e não a lei, podem ter acelerado a redução da prostituição nas ruas, ao juntar compradores e vendedoras eletronicamente.
O estigma contra as prostitutas continua generalizado, e elas têm medo de serem despejadas de suas casas ou de perderem a custódia dos filhos.
A lei está obrigando as mulheres que vendem sexo a viver situações perigosas, disse o documento, afirmando que as transações tornaram-se mais rápidas e furtivas, porque os homens têm medo da polícia, levando as mulheres a saltar para dentro de carros sem antes verificar se o motorista está bêbado, drogado ou representa alguma ameaça.
A Associação Sueca para Educação em Sexualidade -conhecida como RFSU na sigla em sueco- disse que a lei aumentou o estigma e a discriminação, colocando as mulheres que vendem sexo em “uma posição ainda mais precária”.
Alguns defensores da lei acusaram a RFSU de se aliar aos homens que compram sexo, fechando os olhos para o tráfico e a violência, tornando a prostituição respeitável e negando a posição de vítima às mulheres que são obrigadas a entrar no comércio.
O governo tem uma agência para ajudar prostitutas, mas “as garotas não confiam nela”, disse Jonna Bostrom, fundadora do grupo de voluntárias Rosenlundstodet, que ajudou Daniella. “Somos irmãs para as garotas, as escutamos e não julgamos.”