Mônica Francisco, em sua coluna no Jornal do Brasil, lembra que nesta segunda-feira (16) fez um ano que Claudia Silva Ferreira, negra, moradora do Morro da Congonha, foi assassinada pela Polícia Militar e teve seu corpo arrastado pela rua por 350 metros, preso ao porta-malas de uma viatura. Mônica relaciona a morte de Cláudia, em pleno Mês Internacional da Mulher, com a luta das mulheres por direitos e contra o preconceito
Por Mônica Francisco Do Brasil247
Nesta segunda-feira (16) fez um ano que Claudia Silva Ferreira, negra, moradora do Morro da Congonha, em Madureira, auxiliar de serviços gerais então com 38 anos, foi assassinada pela polícia durante uma suposta troca de tiros com traficantes enquanto levava um saco de pão para casa. Na manhã do dia seguinte, um vídeo captado por um celular mostrando seu corpo sendo arrastado pela rua por 350 metros, preso ao porta-malas de uma viatura policial, se espalhou pelas redes sociais causando dor e indignação.
“Quando tomei pé do episódio, no dia 18, chorei tanto que nunca tive coragem de ver o vídeo, bastaram as fotos e as manchetes dos noticiários: “mulher arrastada por viatura da PM”. Como se já não bastasse todo o massacre, a mídia novamente nos deu o espaço do “ser ninguém” e tirou a identidade de Cláudia. Mataram-na pela quarta vez! Roubaram-lhe sua essência, furtaram-na um nome e um sobrenome. Tentaram, mais uma vez, sufocar a existência da mulher negra. Mas os mesmos jornais dão nome, voz e protagonismo a pessoas como Ana Carolina Jatobá e Suzane von Richthofen”, disse Thiane Neves Barros, em artigo para o Blogueiras Negras.
Monica Francisco, em sua coluna no Jornal do Brasil, relaciona a morte de Cláudia, em pleno Mês Internacional da Mulher, com a luta das mulheres por direitos e contra o preconceito: “Ainda no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher devemos atentar para a total contradição que ainda marca nossa sociedade no que diz respeito ao feminino. Propositalmente, me refiro ao assunto usando a palavra feminino, para fazer e compartilhar essa reflexão acerca dos assuntos relacionados às discussões de gênero e para chamar a atenção, de que a despeito das leis que vão tratar especificamente do tema, e do que o viola, como a Lei Maria da Penha e a mais recente Lei do Feminicídio, para que vejamos claramente, que seja simbolicamente ou de fato, nossa sociedade demonstra que isso não é assunto resolvido ainda”. Leia abaixo a seu artigo na íntegra.
Mulheres ainda precisam lutar contra preconceito
Segunda-feira fez exatamente um ano que a auxiliar de serviços gerais, mulher, mãe, negra, dona de casa, esposa, carioca, favelada e brasileira, Claudia Silva Ferreira foi assassinada e teve seu corpo arrastado ao longo de uma via, como que na reprodução dos piores suplícios da idade das trevas.
Ainda no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher devemos atentar para a total contradição que ainda marca nossa sociedade no que diz respeito ao feminino. Propositalmente, me refiro ao assunto usando a palavra feminino, para fazer e compartilhar essa reflexão acerca dos assuntos relacionados às discussões de gênero e para chamar a atenção, de que a despeito das leis que vão tratar especificamente do tema, e do que o viola, como a Lei Maria da Penha e a mais recente Lei do Feminicídio, para que vejamos claramente, que seja simbolicamente ou de fato, nossa sociedade demonstra que isso não é assunto resolvido ainda.
Já trouxemos aqui um sem número de dados que apontam em meio tudo isso, uma pior situação quando o alvo são as mulheres negras. Os insultos e frases de baixo calão desferidos contra a senhora que preside nossa República, e que são tranquilamente também desferidos contra muitas mulheres no trânsito, no trabalho, no cotidiano, sem pudor algum, demonstram que uma situação aparentemente normal e natural faz vir à tona o pior da misoginia, do machismo e das marcas que o patriarcado deixou.
Há uma longa e árdua caminhada até que sejamos respeitadas como cidadãs de fato e não de segunda classe. É urgente lutarmos pela implosão das estruturas que mantêm e disseminam, mesmo que de maneira subliminar, a ideia da superioridade masculina e que faz com que até outras mulheres compactuem com determinadas atitudes violentas.
A ideia de um superior vai incidir diretamente na busca de um outro inferior e se não o for, criam-se as condições para torná-lo, sem que nada ou muito pouco seja feito para mudar. Lembremos do caso Eliza Samudio, que denunciou, buscou auxílio e não foi ouvida. São processos seletivos, onde há ainda a “mulher que merece” crédito ser ouvida e a que “não merece”. Agora no ar, uma novela em que uma mãe precisa entregar seu corpo para salvar um filho. Isso nos leva a pensar se porventura o tema seria o mesmo no caso de um pai viúvo. Já não há mais comoção, são poucas as lembranças do caso Cláudia, tantos outros se sobrepuseram, mas é aí que está o pulo do gato. Em trazermos sempre a questão ao centro da cena. Já que o mês é nosso, vamos aproveitá-lo ao máximo.
“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”
Mônica Francisco é membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.
Fonte: Geledes