“Meu marido dizia que se eu prestasse queixa, me matava”

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A violência contra a Mulher é tema de discussão e reflexão durante todo o ano, frente aos recorrentes casos e situações que inferem nos direitos Humanos das Mulheres, seja nos espaços públicos ou privados. Essa problemática está fundada em questões culturais e estruturais de desigualdade entre os gêneros, historicamente construídas e consolidadas dentro de um sistema de dominação alimentado por três estruturas de poder: O patriarcado, o capitalismo e o racismo.

Graças aos movimentos feministas, essa temática passou a ser abordada de forma mais incisiva na agenda pública e muitos direitos foram conquistados nas ultimas décadas. O poder público e a sociedade civil vêm buscando estratégias conjuntas para o enfrentamento às inúmeras violências e violações que acometem a vida das mulheres, independente de classe social, idade, raça e credo; contudo, de forma mais cruel e em maior número entre as mulheres pretas e pobres.

No atendimento às mulheres acompanhadas pela Pastoral, podemos observar frequentes queixas e depoimentos de vivência de violências ao longo das suas vidas, tanto no campo doméstico, quanto no contexto da prostituição. No campo prostitucional a busca por ajuda e a realização de denúncias é pouco frequente, diante do estigma social presente também nas repartições públicas, especialmente nos órgãos de segurança pública, em sua maioria compostos por homens.

O ciclo de violência é iniciado com atitudes que configuram baixo risco de morte, a exemplo de discussões, ciúmes, proibições aparentemente banais que com tempo evolui para humilhações, xingamentos e atos de agressões físicas.

Maria da Resistência, mulher assistida pela Pastoral, relata suas experiências frente a episódios de violência no contexto familiar e também da prostituição.

“Meu marido dizia que se eu prestasse queixa, me matava. Botaria fogo na casa da minha mãe com todo mundo dentro de casa. Eles procuram o ponto mais fraco na gente, pra nos intimidar e a gente não denunciar.”

Destacamos que esta mulher se permitiu ao acompanhamento com os profissionais da Pastoral da Mulher e conseguiu romper com as várias formas de violência que estava vivenciando.

Muitas mulheres experenciam o ciclo da violência por muito tempo, pois vivem entre o medo de morrer e a coragem de denunciar. No ambiente da prostituição o medo é maior, pois em muitos espaços é só a mulher e o cliente, e tudo pode acontecer. Elas também relatam que sofrem pressão por parte dos donos dos bares que muitas vezes pedem para elas não denunciarem as agressões sofridas.

Segundo Fernanda Nunes, psicóloga da instituição “o processo de acolhida e a escuta qualificada possibilitam que a equipe tenha um olhar mais amplo sobre a mulher e o que ela traz, facilitando para que o acompanhamento seja direcionado de forma assertiva. O atendimento psicológico por exemplo, é uma intervenção de grande importância para as mulheres vítimas de todas as formas de violência. Auxilia no resgate da autoestima e no fortalecimento da autonomia, tornando-as protagonista das suas histórias….”

Neste 25 de novembro – Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher – reforçamos as lutas de combate a todos os tipos de violência sofridas pelas mulheres e nos unimos a esta causa buscando fortalecer nosso vínculo com a rede de enfrentamento almejando a garantia da vida das mulheres.

#NãoAoFeminicídio

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais da Pastoral da Mulher – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais. 
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