por Beatriz Regina via Guest Post para o Portal Geledés
Tenho a triste certeza de que toda a mulher negra que se posicionou e se posiciona diariamente contra um ato de racismo e machismo, homofobia, lesbofobia, bifobia, transfobia, gordofobia e as todas as coisas ruins desse mundão, já foram silenciadas com as seguintes frases: “Tenha calma!”, “Você está prejudicando a minha liberdade de opressão, ops de expressão”, “Você está sendo radical”, entre outras.
A sensação de que isso não acontece só comigo, ou com as irmãs que convivo diariamente me desespera. Sei que geralmente frases como as acima citadas são utilizadas na maioria das vezes por quem quer falar pelxs negrxs, e o que me deixa com mais sangue no zóio, é que fazem isso sem xs negrxs, explicitando o desejo de protagonizar a luta em que elxs são coadjuvantes, sendo essa dificuldade de respeitar o lugar de fala dxs negrxs e principalmente da mulher negra, resultado das relações de privilégios existente na sociedade.
Vivemos em uma sociedade racista, patriarcal que tem em seu imaginário os tempos em que provavelmente os chicotes iriam descarnar nossas peles, hoje substituídos por balas, por falas que têm a intenção de deslegitimar denúncias, posicionamentos, a lista de é enorme e muitas delas comumente usadas pelxs sinhozinhxs presentes nos movimentos sociais, na esquerda, direita, centro…. A cada aumento do tom de voz, a cada relativização e re-significação da opressão, a cada momento em que sentimos que somos tratadas como um pedaço de carne, a cada momento em que somos obrigadas a nos retirar de espaços que desejam falar por nós, muitas vezes sem nós, quando a opressão se transforma e é justificada por um erro de comunicação, interpretação equivocada obviamente por nossa parte.
(…)
Da boca escorrendo
Você disse que tá junto e eu continuo escrevendo” Antiga Poesia- Ellen Oléria