Ex-prostituta famosa em Arcoverde será homenageada pela Câmara de Vereadores

Compartilhar
Nena Cajuína
 
Um acontecimento curioso envolvendo a Câmara de Vereadores de Arcoverde, no Sertão pernambucano, tem causado polêmica e gerado os mais diversos tipos de comentários entre moradores do município.
 
No último dia 15 de abril, a Casa aprovou por unanimidade uma proposta de homenagem à empresária Nivalda Rafael de Siqueira, mais conhecida como Nena Cajuína, uma prostituta famosa da cidade. Ela receberá a Medalha de Honra ao Mérito Cardeal Arcoverde, a mais alta comenda entregue pelo Legislativo, dada a personalidades que possuem serviços prestados no município.
 
O projeto é de autoria da parlamentar Célia Cardoso (PR), que não esconde a admiração por Nena. “É uma mãe de família, que veio de Custódia e começou a trabalhar cedo, lavando prato nas casas noturnas, para sobreviver. Ela trabalhou a vida inteira para dar uma vida digna aos filhos”, explica.
Conhecida por quase todos em Arcoverde, a homenageada também costumava ajudar às prostitutas que não tinham condições de criar os filhos. Uma dessas crianças, inclusive, foi adotada ainda recém-nascida pela vereadora, graças ao intermédio de Nena.
 
Prostituta assumida, dona Nivalda, hoje com 64 anos, começou no ramo aos 13. Atualmente, é proprietária de um bar no bairro de São Cristóvão, conhecido na região como “Colégio”, de onde tira seu sustento. Ela teve três filhos, sendo que apenas um deles, um pastor evangélico, continua vivo.
 
“Eu já tive muito cliente, mas hoje eu só vendo minha cervejinha mesmo”, diz. Além do bar, Nena ainda costuma montar barracas para comercializar bebidas em eventos que acontecem na cidade.
 
Preconceito
 
Mesmo com a homenagem da Câmara, o preconceito ainda existe nas ruas. Com certa frequência, Nena é alvo de piadas e, mesmo assim, não perde o bom humor típico de quem tem muitas histórias para contar.
“Tem homens que eram apaixonados por mim e hoje me chamam de vó, de tia”, revela. “Antigamente, quem tinha filho homossexual trazia os meninos para mim e eu dizia que era tudo macho. Quando chegavam perguntando, eu dizia logo que o menino tinha ‘ficado’ com umas três na mesma noite”, lembra, aos risos.
Apesar de a proposta da homenagem já ter sido aprovada, a data para a entrega da medalha segue indefinida. O motivo: Nena Cajuína mostra um pouco de resistência em receber pessoalmente a comenda. No entanto, a vereadora Célia Cardoso está certa de que ela irá ceder. Recentemente, uma moradora da cidade teria dito para dona Nivalda que ela não merecia receber o “diploma”, referindo-se à medalha. A resposta veio de imediato: “Minha filha, eu já tenho esse diploma desde os 13 anos”, brinca.
 

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais da Pastoral da Mulher – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais. 
Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *